ENTREVISTA COM ILETE SUELI PILON CORDEIRO
Professor Edson
Boa tarde. Hoje, dia 30 de outubro de 2025, estamos aqui com a professora Ilete Sueli Pilon Cordeiro. Nosso conteúdo de sala de aula que estamos trabalhando é sobre Revolução Industrial.
Dentro desse processo, entendemos que o nosso município de Frei Rogério, assim como muitas cidades do Brasil, teve uma revolução industrial tardia, que começou de cinquenta anos para cá — por volta de 1970.
E ela vai nos relatar um pouco da sua história, que concomitantemente vai representar ou retratar também a revolução industrial que aconteceu aqui em nossa região.
Professora Ilete:
Então, como o professor falou, sou a professora Ilete, né? Sou professora aposentada já, e tive a oportunidade de trabalhar novamente nessa escola depois que me aposentei e saí da prefeitura de Frei Rogério.
É muito legal trabalhar aqui, professor. Para mim, retornar à escola foi algo maravilhoso. Isso me estimulou, minha autoestima melhorou, porque eu estava em casa e, até então, tinha alguns afazeres. Mas eu acho que me identifico mesmo é como professora. Por isso que retornei às salas de aula.
Pergunta de estudante
O que você mais gostava de fazer quando era criança?
Professora Ilete:
Brincar! Brincar com minha irmã. A gente tinha pouca diferença de idade, e brincávamos muito de peteca nos potreiros. Não tinha muita coisa, mas a gente se divertia.
Brincava de escorregar nas palhas, descia o morro brincando. Eu e minha irmã éramos quase da mesma idade.
Pergunta de estudante
Qual era a fonte de energia usada na casa onde você morava?
Professora Ilete:
A fonte de energia era a vela.
Mas era uma vela de lampião. Essa vela era muito importante, não soltava fumaça pela casa toda. Usávamos também velas comuns.
Pergunta de estudante
Como era ser criança naquela época?
Professora Ilete:
Muito diferente de hoje, professor.
Naquela época, nem se imaginava que chegaríamos nessa era da tecnologia.
Nós brincávamos muito com a família e os amigos. Nosso maior prazer era ir passear na casa dos tios, dormir lá, brincar com os primos.
As brincadeiras eram todas sadias — brincar no rio, subir em árvores, correr pelo mato.
Ninguém se machucava. Os pais não se preocupavam tanto porque sabiam que voltaríamos para casa, talvez com alguns arranhões, mas fazia parte das brincadeiras da época.
Pergunta de estudante
Quais eram as brincadeiras que a senhora mais gostava?
Professora Ilete:
Era peteca, pega-pega, esconde-esconde, “ovo choco”, jogar bola com os primos.
Naquela época nem tinha “amarelinha”, isso veio depois.
Brincávamos com o que tínhamos, e era uma alegria.
Pergunta de estudante
Como foi sua adolescência sem a tecnologia?
Professora Ilete:
Muito boa.
Eu morava aqui mesmo, em Frei Rogério. Nasci, me criei e estou aqui até hoje.
Nos domingos, a gente vinha ao campo jogar vôlei, sentar embaixo das árvores, conversar.
Essa escola é uma referência para mim. Atrás dela tinha um campo e muitas árvores.
Os rapazes vinham, a gente conversava, mas era tudo com muito respeito.
Naquela época, a família era muito rígida. Tínhamos que saber com quem conversávamos, com quem andávamos, porque os pais cobravam isso em casa.
Pergunta de estudante
Como era Frei Rogério quando você era criança?
Professora Ilete:
Lembro bem da escola onde eu estudava — ficava perto da igreja, uma escola pequena.
Nossa referência era a escola, a igreja e o mercado do senhor Ludovico Solagna, onde comprávamos mantimentos.
Tinha poucas casas.
Depois, já em 1974, eu era adolescente e meus pais compraram um terreno na sede.
Meu pai construiu um bar, e aí começou a crescer o movimento.
s casas eram quase todas de madeira, algumas cobertas com tabuinhas, outras já com telhas.
A referência maior ainda era a igreja — até porque éramos uma família muito religiosa.
Pergunta de estudante
Como eram as compras? Tinham vendedores ambulantes?
Professora Ilete:
Não, não existiam vendedores ambulantes quando eu era criança.
Quando começou a aparecer um ou outro, eu já era mocinha.
A gente comprava tudo na loja do seu Ludovico ou da dona Ortenila.
A gente pedia no balcão: tantos metros de tecido, um quilo de café, açúcar, farinha…
Eles pegavam e entregavam ali. Tudo muito simples.
Pergunta de estudante
Qual foi a primeira tecnologia de antigamente?
Professora Ilete:
O rádio.
Televisão eu fui conhecer só bem mais tarde.
O pai e a mãe acordavam cedo e ligavam o rádio para escutar o Zé Bétio.
Pergunta de estudante
Como era o vestuário masculino e feminino?
Professora Ilete:
Os homens usavam calça social, passada no ferro, com friso.
As moças usavam saia até o joelho — só em ocasiões especiais, como 7 de setembro, é que usávamos saias de preguinhas um pouco mais curtas.
As pessoas andavam muito bem vestidas, principalmente para ir à igreja.
Nada decotado, nada chamativo.
As roupas eram feitas de tecido comprado no comércio local e costuradas em casa pela mãe ou por costureiras.
Às vezes as irmãs se vestiam iguais, porque o pai comprava tecido em quantidade para economizar.
Pergunta de estudante
Com qual idade teve seu primeiro filho e quais as dificuldades naquela época?
Professora Ilete:
Quando casei, Frei Rogério já estava mais evoluído.
Já havia transporte, estradas de chão mais acessíveis.
Não tínhamos carro, mas havia quem nos levasse até Curitibanos ao hospital.
A gente se preparava, levava a malinha pronta.
Pergunta de estudante:
Como eram os desafios para ir à escola?
Professora Ilete:
A gente vinha com muita vontade!
Eu e minha irmã morávamos no sítio.
Nos dias de chuva, não tinha calçamento.
Tirávamos os sapatos e vínhamos descalças até perto da escola, lavávamos os pés e calçávamos de novo.
Saíamos de casa às 5h30 da manhã e chegávamos por volta das 7h30.
Mas sempre limpas e arrumadas, porque ir à escola era um orgulho.
Os professores eram respeitados — autoridade total.
Nunca existia “não quero ir” ou “não vou fazer”.
Pergunta de estudante
Antigamente brigava?
Professora Ilete:
Não. Às vezes eu e minha irmã discutíamos.
O pai e a mãe iam para a roça e nos deixavam com tarefas: limpar a cozinha, arrumar a sala.
Mas a gente acabava jogando peteca e esquecia do serviço.
Quando via, o pai estava chegando, e era aquela correria!
Brigas mesmo, não. Só discussões de irmãs.
Pergunta de estudante
Como eram feitas as bonecas?
Professora Ilete:
As primeiras bonecas eram de palha de milho.
A gente pegava as palhas, amarrava com barbante, fazia o corpo e a cabeça, e colava os olhos e a boca com o que tinha em casa.
Pergunta de estudante
Na escola, já recebeu castigo?
Professora Ilete:
Não. Nunca recebi castigo.
Lembro que uma vez, pequena ainda, minha irmã mais velha — que era professora — tinha um livro muito bonito, de capa azul.
Eu queria ler, mas ela disse que não podia, porque era livro de professor.
Mesmo assim, peguei escondido. Ela me chamou atenção, e depois contei tudo à professora.
Foi só curiosidade — eu já gostava de ler.
Pergunta de estudante
Seus pais foram um dos primeiros imigrantes aqui. Quais dificuldades enfrentaram?
Professora Ilete:
Sim.
Eles moravam em Serra Baixo e vieram para cá subindo a serra a cavalo.
Meu pai já morava aqui e foi lá casar com minha mãe.
Eles vieram porque precisavam ficar perto do rio, para construir um moinho.
As estradas foram abertas na picareta.
Moravam todos juntos numa casa grande de madeira, com porão para guardar alimentos e banha.
Tenho essas lembranças.
Pergunta de estudante
E a energia elétrica, quando chegou?
Professora Ilete:
Eu já era moça.
Acho que foi em 1984.
Quando o pai construiu uma casa de material, veio a luz.
Antes disso, meu tio já tinha luz no moinho, com um gerador, mas só funcionava à noite.
Pergunta de estudante
E o primeiro veículo?
Professora Ilete:
Foi um “TL”.
Meu pai comprou, e depois meu tio também.
Naquela época, ter um carro era uma grande conquista!
Eu devia ter uns 12 ou 13 anos.
Pergunta de estudante
E sobre as tecnologias modernas — computador, celular… quando começou a usar?
Professora Ilete:
Eu já era casada quando comprei o primeiro computador aqui em Frei Rogério.
Na época, muitos alunos vinham em casa fazer pesquisas.
Poucas pessoas tinham computador.
Eu e algumas professoras fomos das primeiras a ter.
Também lembro do telefone grandão, aquele antigo.
Mas eu já era casada e tinha filhos.
Pergunta de estudante
Qual matéria você tinha mais dificuldade?
Professora Ilete:
Matemática!
Era uma dificuldade minha.
Naquele tempo, o professor usava uma régua grande — se não soubesse, levava reguada na mão. Ou aprendia, ou aprendia!
Pergunta de estudante
Qual era o meio de transporte daquela época?
Professora Ilete:
A pé ou a cavalo.
Professor:
E para finalizar, qual recado deixaria aos estudantes de hoje sobre conhecimento e futuro?
Professora Ilete:
Hoje, o avanço da tecnologia está em cada um de nós, dentro de nossas casas e escolas.
Não existe mais quem diga que não tem acesso à informação.
Todos têm Wi-Fi, televisão, celular.
O mundo é movido pela comunicação.
Mas é importante lembrar: a tecnologia nunca será melhor que o ser humano.
Ela ajuda, sim, mas depende de quem a usa.
Os jovens têm tudo nas mãos para serem muito melhores.
Na nossa época, era tudo mais difícil — para estudar, tínhamos que sair de casa, mudar de cidade.
Hoje o aluno pode estudar dentro de casa, basta querer.
Então, aproveitem as oportunidades.
A sociedade oferece muitas coisas, e quem quer pode ser um ótimo profissional com os recursos que tem.
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